terça-feira, 4 de março de 2008

29.

Se em desgraça com olhos do Mundo e Fortuna
Eu choro, proscrito e só, meu pobre estado
E o meu vão bradar os surdos céus importuna
E atento em mim e maldigo o meu fado,
Querendo-me igual a outro mais rico em esp'rança,
Seu par em amizades, como ele atraente
Invejando a este a arte, àquele o que alcança,
Com o que mais prazer me traz menos contente;
Neste pensar, que em desprezar-me se traduz,
Se penso em ti por grã ventura, então minh'alma,
Qual cotovia que emerge à primeira luz
Da terra escura, num cântico ao Céu se alumia;
Pois lembrar teu amor é estado de tal bem
Que nem por Reino eu trocara o que ele contém.

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